Saturday, November 3, 2007

lagrimas de dor

ali estava eu, pronta para morrer, mas os que me rodeavam não estavam prontos para a minha partida, então devido a sua inveja fui-me mantendo viva, comendo e bebendo, alimentar meu corpo moribundo e livre de alma.
só queria poder deixar meu corpo cansado descansar, apenas queria morrer.
o meu amor ja me tinha esquecido, ja era feliz outra vez, meus amigos ja tinham um rumo traçado, minha familia tinha problemas demais para pensarem nos meus problemas, na minha falta de existência, na minha falta de amor e falta de realização.
todas as noites ao deitar meus olhos choram, meu corpo se torce, por vezes em silencio, para nao acordar ninguem, pois nao quero falar desta dor, apenas a quero chorar, e assim morrer em silencio.
passou um dia, ainda estou viva, atendo o telefone, um cafe ficou combinado com a minha melhor amiga, vamos falar de coisas importantes, e eu de projectos, que sei que nao vou realizar, pois ja estarei morta.
falo do meu dia enquanto janto, metendo alegria nas palavras e nos meus gestos ja conhecidos, mas no fundo é tudo fantasiado, nao para mim mas para quem me ouve, pois nao quero que se note a minha partida.
tomo banho, arranjo o cabelo, escolho bem minha roupa, pois nao sei quando morrer e quero que minha roupa eterna seja apresentável, pois quando morrer vou ser feliz, e para o ser preciso de um bonito par de sapatos e cabelo cuidado.
mostro interesse por roupa da nova colecção, por viagens que nao seram feitas, e datas que nao seram passados comigo por perto. peço desculpa, mas ja nao estarei.
atravesso a estrada a ver se um carro se aproxima, e assim me leva para sempre, quando conduzo controlo a velocidade de outros, para saber se serei desencarcerada ja sem vida. mas nada me vem buscar, nem um viaduto que cai, por cima ou sub mim.
nao quero companhia, apenas o silencio, nao quero musicas alegres ou de amor, apenas musicas tristes, que me acompanham e entendem minha dor.
porque ainda se vive, sem amor, sem planos, sem desejos, apenas se ocupa espaço neste mundo cheio de sonhos e amor. nao é lugar para mim.
limpo minhas lagrimas e vou vivendo por enquanto, rastejando este corpo ja moribundo.
uma semana que passou, meu coraçao esta mais morto, o apetite começa a acabar, e a sede vai atraz, meu rosto ja palido vai deixando transparecer algo.
-que tens? perguntam-me as pessoas
-nada, estou engripada, a minha falsa resposta, pois nao quero que alguem pense em ajudar, pois nao ha ajuda possivel, apenas quero partir, ver quem ja foi, abraçar as pessoas que nao se despediram de mim.
passou um mes, olho-me ao espelho, limpo as lagrimas e maquilho-me, olhar vincado mas calmo, bochechas rosadas e grena nos labios, visto meu vestido branco de linho, estico meu cabelo castanho e meto suas pontas onduladas, um gancho nao deixa minha franja tapar meus olhos rosados, com pontos luz muito bem esquematizados.
minhas contas ja estao pagas, meu quarto arrumado, cartas de despedida ja feitas assinadas e em envelopes com o respectivo destino.
levantei todas as semanas dinheiro, para meus pais nao gastarei dinheiro com o funeral.
deixei tudo explicito, como quero que seja o meu ultimo contacto com o sol, ja vestida, pintada e arranjada. espero que tenham cuidado ao tirar meu vestido pois é com este que quero ser enterrada.
vao-me abrir, espero que meu vestido nao fique manchado com sangue.
telefono uma ultima vez ao meu eterno amor, combino um cafe, onde direi que o amo, mas vou partir, que vou para longe, dar uma volta a minha vida. entrego-lhe o nosso diario, pois quero que ele saiba o quanto o amo, mas ele tem de ser feliz assim como eu, e assim me despeço digo que vou viajar.
despedimo-nos com um doce beijo, o meu ultimo beijo.
janto com meus pais, de forma alegre, risos e palavras alegres, despeço-me, digo que estou cansada, um beijo no rosto de cada um, mando mensagem a amigos, desejando uma boa noite de sono, pois deu-me a saudade, ligo a minha melhor amiga e falo sobre seu namorado, sobre a revista que estamos a ver e despeço-me com um ate amanha.
deito-me na minha cama, olho para as estrelas da rua, nunca as vi brilhar tanto, vejo uma estrela cadente, e faço um desejo, quero morrer agora, a fecho meus olhos.

3 comments:

Anonymous said...

Lágrimas de dor?ou lágrimas de desconhecimento?
É certo que os erros às vezes se podem repetir, mas nunca poderemos dizer que nascemos com as lições ensinadas. Existe o Deus, que se esqueceu do livro de instruções. E se houvesse, ele que ficasse com aquilo pois assim é melhor.
Ter de saborear as nossas expriências, e sozinhos, dizer a tudo e a todos que passamos por um inferno ou dois.

Menina bonita não chora, por isso faça um esforço para viver e ser vivida(no bom sentido)

Continue, adoro.

PS:só agora reparei que tem o meu link para o meu blog no seu. Muito Obrigado pela atençaõ.
Reparei "prémio nobel da Mentira", e fui ver, e voilá, eu próprio em palavras. lol.
Mais uma vez obrigado.

keep going beauti lady

Vanessa Lourenço said...

Não tenho nada para te dizer, porque não me sai nada. Tenho medo de pensar que 90% do que aqui escreves-te é verdade, porque eu sei que é. Sempre me disses-te que achas que vais morrer cedo, eu sempre torci o nariz a essa conversa. Não a quero ter, não a quero imaginar nem ter de passar por ela. Sabes, melhor que muita gente, que a puta da vida não é justa. Tu sabes disso! Mas sabes que em tens, sabes que o anjo não vai a lado nenhum. O nosso´mundo é lindo, é. Sabes porquê? porque tu fazes parte dele, porque tu és esse mundo, porque o meu mundo, o da Raquel, o do Sousa, o da Marta, o do otário mor, da tua prima, dos teus pais, simplesmente, não existia sem ti, porque não faria sentido existir...
Portanto, eu não quero, recuso-me, nego-me a ouvir e a ler isto, porque me magoa, a mim, porque não quero estar aqui sem ti...***

Anonymous said...

Linda! Adorei.. quando a morte é descrita como uma libertaçao desse mundo, dessa dor, disto..Adorei a frase "quando morrer vou ser feliz"..porque é outro mundo fascinante..onde nada sabemos e tudo imaginamos...
Continua :)