Wednesday, November 6, 2013

Alvo humano

Caminha a mocita, mala de mão, saco das iguarias, saia rodada e camisa com mangas de balão.
Caminhava contente pela feira de carroçais e algodão doce. Como se divertia  a passar por ali enquanto seguia para sua casa. Ia fazer uma bela e cheirosa tarte de maça e canela para o seu belo namorado.
Mas qual não é o espanto de todos, menos da moça, de se ouvir um estoiro, som seco, abafado e estridente que silenciou todo o parque.
Olhou-se em redor pensado que alguma maquina se tinha estoirado, mas tal não era. Os movimentos ficaram lentos, o silencio apoderou-se de todo o espaço, de todo o universo. Rodopiava sem avançar, nada se passava de forma rápida e acelerada. os olhos focam-se na moça, pobre moça.
Seu corpo tombava lentamente, sua expressão era sorridente, de sua cabeça se viam cores, pensamentos, cheiros e sons.
Toda a sua mente se evaporava pelo ar, toda a sua essência se esvaia nos átomos de oxigénio. Ouviam-se as sua gargalhadas de pequena enquanto brincava com seu pai na praia, ouvia-se seu choro pelo 1º amor, ouvia-se os cochichos de adolescentes encantadas por seu professor. Sentia-se o cheiro da torta de cenoura feita por sua mãe, sentia-se a brisa do lago onde pescava com seu avô.
Via-se o seu primeiro beijo, o seu primeiro verdadeiro amor, via-se o seu cachorro a correr pela rua, via-se o vento levantar o seu vestido, a brincadeira com os amigos, os copos de champanhe a tocar acompanhados por uma lareira acesa. Sentia-se o quente do cobertor, a macieza da manta e casaco de caxemira.
Seu corpo tombava já sem vida, mas de sua mente saia um mundo infindável de histórias. Uma vida vivida cheia de alegria, uma vida já acabada.
Seu olhar aberto, seu sorriso magistroso, enchiam todo o parque, todos apontavam incrédulos com tal chacina, os pequenos deixavam cair seus gelados, senhoras, mães de família, tapavam os olhos dos seu pequenos. Senhores de idade viam a morte perto, mas não a sua.
seu corpo finalmente caiu sobre um punhado de sangue, jorrava sobre sua cabeça o resto de vida, via-se jogos de dado, beliscões amigáveis, pequenos furtos na cozinha da tia Ermelinda.
De seu saco caiam maças grenas, paus de canela, farinha ensacada, açúcar e manteiga.
De sua mala ouvia-se um toque, que ninguém ousava a atender.
Um pequeno de 5 anos teve coragem, largou-se de sua mãe e procurou de atender e dar a triste nova.
Quem ligava era seu namorado, "MyLove". - Estou, disse um voz criaçada. A menina levou um tiro e morreu, está aqui, mas estou a ver o seu ultimo pensamento, acho que é o senhor.


Do outro lado da moça, de onde saiu o tiro, estava um senhor incrédulo, com pano de camurça limpava espingarda para o jogo de atira ao alvo.

Mas o alvo foi outro, pobre moça, com ela foi o corpo e sua alma se elevou aos ceus para que todos a pudessem conhecer.




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