Saturday, October 19, 2013

Um simples devaneio

Estou no corredor, à espera que passes, discreta, com os livros e cadernos, ajeito o decote, afasto o cabelo, caminhamos lado a lado e esboço um simples sorriso, de cortesia, educação.
Descemos os quatro degraus com classe e sintonia, mas simulada e simetria, muitos se deslocam para a saída, acabou o dia, e uns vão para o seu repouso e outros talvez para a Moraria.
Eu sei para onde vou, mas não posso dizer, alias a minha resposta para alheios do meu destino: Vêm-me buscar, adeus e até amanha.
Saiu do átrio, passo pelas grandes colunas e olho para o lado, lá estas tu, com ar sério, necessário para o teu ofício, desces as escadas de forma acelerada, como se corresses para alguma coisa, mas o que tu querias estava bem atrás de ti.
Continuei a saltitar a escadaria, fazendo assim levantar sorrateiramente o meu vestido.
Aproximo-me para uma rua de pouco movimento e caminho em direcção ao meu destino, não sei onde está a minha boleia, mas não faz mal, sei que a vou encontrar, alias que vou ser resgatada.
Passo junto de uns carros protegidos por um muro e sou puxada, confesso que por momentos me veio o medo, mas logo reconheci o aroma, os livros tombam no chão, sou encostada ao muro e sinto bem junto de mim um corpo, só isso que sinto, não vejo bem pois a rua é escura, mas reconheço o respirar, reconheço o tacto, reconheço a minha reacção.
As minhas pernas são delicadamente afastadas fazendo assim o vestido subir. Sinto o meu pescoço a ser apreciado, não só pela tua mão que se tenta apoderar do meu rosto ,como da tua boca que apesar de profetizar os próximos momentos ainda me acaricia, fazendo minha pele ficar toda arrepiada e subsequentemente a minha respiração torna-se inconstante.
Minhas mãos começam a palpar terreno, não só sentir o que me vai atingir como planear os meus próximos passos.
Uma das tuas mãos decide sentir a zona sul do meu corpo, sentes que está quente e queres-me tirar a sua temperatura. Tua mão passa pela minha perna e sente a liga, quando te apercebes que o que segura as meias é um cinto especialmente feminino, burlesco e até doidivanas, esboças um sorriso e comentas: a noite promete.
Sempre fiquei curiosa do fascínio dos homens por tais peças, mas não quis debater tais temas nem politiquices, naquela altura, e por muito fascinada que fique com tuas prosas, não as queria ouvir. Apetecia-me calão, conversa grosseira e actos bárbaros pouco civilizados. Não queria disciplina, mas sim mau comportamento e repreendas.
Sinto a tua mão bem dentro de mim, e apercebes-te do quanto estou molhada, contorço-me, arqueio as minhas costas, afasto minha cara do teu rosto, olho-te sem medo, hesitação ou pudor e peço-te que me fodas, sim foram essas as palavras que prenunciei. Baixas-te enquanto me beijas o ventre e pegas nos livros caídos. Puxas-me pela mão e seguimos para o carro, mas enquanto isso não há palavras, apenas beijos e risos. No carro decido complicar a tua viagem, distancio as pernas mas com o vestido tapando as indecências, mas vou ajeitando as meias a modo que fiquem bem justas ao corpo. Tentas-te concentrar na condução e desvias o olhar, mas a minha respiração não ajuda.
Chegámos à tua casa, e já ai começam as roupas a viajar pelo corredor, mas não deixo os saltos, esses vão permanecer por muito tempo, juntamente com as meias e o colar de pérolas.
Deitas-me na cama, beijas todo o meu corpo, as pernas as coxas, sinto os teus dentes a tentar tirar um pouco da minha carne, as tuas mãos deixam a minha pele vermelha, meu corpo não consegue ficar parado, não me consigo manter imóvel, só quero mais, quero que pares, que continues, que te controles. Já não sei o que quero, espera, não, eu sei o que quero, quero saciar a minha sede, aquela vontade, quero-me vir, quero-te sentir.
Quando o teu corpo já se encontra sobre o meu sinto a tua vontade, e não resisto em provar um pouco, deliras, gemes, invocas os deuses, proclamas palavras sem sentido. Sento-me sobre ti, e ao sentir o teu tronco bem junto do meu peito beijo-te com paixão, de forma calma, tranquila mas forte e violenta. Sinto a intensidade do teu beijo, das tuas mãos e consumamos o acto. As nossas respirações apesar de aceleradas são sincronizadas. O ritmo vai se precipitando, peço-te calma, os corpos estão suados e quentes, a respiração começa a ser quase impossível, como se estivéssemos a ser sufocados, mas não dá para parar, não agora, pegas em mim e deitas-me sobre a cama e assim com toda a tua vitalidade de possuis, minhas mãos arranham as tuas costas, tua boca marca-me, meus dentes serram-te como se fosses um mero pedaço. Viramos animais, viramos selvagens, lutamos sem nos largámos, disputamos o território, não há heróis nem vencidos, apenas nós os dois, no mundo no espaço, não existe mais nada para além do Cosmo.
Sento formigueiro nos dedos, sinto a energia a viajar de forma supersónica, sinto-me a inflamar, sinto-te a entrar em erupção, os sons dominam o espaço, os gemidos são descontrolados e longos segundos depois sinto uma explosão, adrenalina, ira, paixão, tesão, não sei que cocktail é este que se espalha e incendeia o espaço.
Sei que a respiração por segundos faltou, que me senti conscientemente inconsciente, cais ao meu lado, olhamo-nos e o riso substitui os gritos à pouco emitidos. Olhamos um para o outro com ar leve, como se tivéssemos atingido o estado nirvana.



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