Estou no
corredor, à espera que passes, discreta, com os livros e cadernos, ajeito o
decote, afasto o cabelo, caminhamos lado a lado e esboço um simples sorriso, de
cortesia, educação.
Descemos os
quatro degraus com classe e sintonia, mas simulada e simetria, muitos se
deslocam para a saída, acabou o dia, e uns vão para o seu repouso e outros
talvez para a Moraria.
Eu sei para
onde vou, mas não posso dizer, alias a minha resposta para alheios do meu
destino: Vêm-me buscar, adeus e até amanha.
Saiu do átrio,
passo pelas grandes colunas e olho para o lado, lá estas tu, com ar sério, necessário
para o teu ofício, desces as escadas de forma acelerada, como se corresses para
alguma coisa, mas o que tu querias estava bem atrás de ti.
Continuei a saltitar
a escadaria, fazendo assim levantar sorrateiramente o meu vestido.
Aproximo-me
para uma rua de pouco movimento e caminho em direcção ao meu destino, não sei
onde está a minha boleia, mas não faz mal, sei que a vou encontrar, alias que
vou ser resgatada.
Passo junto de
uns carros protegidos por um muro e sou puxada, confesso que por momentos me
veio o medo, mas logo reconheci o aroma, os livros tombam no chão, sou encostada
ao muro e sinto bem junto de mim um corpo, só isso que sinto, não vejo bem pois
a rua é escura, mas reconheço o respirar, reconheço o tacto, reconheço a minha reacção.
As minhas
pernas são delicadamente afastadas fazendo assim o vestido subir. Sinto o meu
pescoço a ser apreciado, não só pela tua mão que se tenta apoderar do meu rosto
,como da tua boca que apesar de profetizar os próximos momentos ainda me
acaricia, fazendo minha pele ficar toda arrepiada e subsequentemente a minha
respiração torna-se inconstante.
Minhas mãos
começam a palpar terreno, não só sentir o que me vai atingir como planear os meus
próximos passos.
Uma das tuas mãos
decide sentir a zona sul do meu corpo, sentes que está quente e queres-me tirar
a sua temperatura. Tua mão passa pela minha perna e sente a liga, quando te
apercebes que o que segura as meias é um cinto especialmente feminino, burlesco
e até doidivanas, esboças um sorriso e comentas: a noite promete.
Sempre fiquei
curiosa do fascínio dos homens por tais peças, mas não quis debater tais temas
nem politiquices, naquela altura, e por muito fascinada que fique com tuas prosas,
não as queria ouvir. Apetecia-me calão, conversa grosseira e actos bárbaros pouco
civilizados. Não queria disciplina, mas sim mau comportamento e repreendas.
Sinto a tua mão
bem dentro de mim, e apercebes-te do quanto estou molhada, contorço-me, arqueio
as minhas costas, afasto minha cara do teu rosto, olho-te sem medo, hesitação
ou pudor e peço-te que me fodas, sim foram essas as palavras que prenunciei. Baixas-te
enquanto me beijas o ventre e pegas nos livros caídos. Puxas-me pela mão e
seguimos para o carro, mas enquanto isso não há palavras, apenas beijos e
risos. No carro decido complicar a tua viagem, distancio as pernas mas com o
vestido tapando as indecências, mas vou ajeitando as meias a modo que fiquem
bem justas ao corpo. Tentas-te concentrar na condução e desvias o olhar, mas a
minha respiração não ajuda.
Chegámos à tua
casa, e já ai começam as roupas a viajar pelo corredor, mas não deixo os
saltos, esses vão permanecer por muito tempo, juntamente com as meias e o colar
de pérolas.
Deitas-me na
cama, beijas todo o meu corpo, as pernas as coxas, sinto os teus dentes a
tentar tirar um pouco da minha carne, as tuas mãos deixam a minha pele
vermelha, meu corpo não consegue ficar parado, não me consigo manter imóvel, só
quero mais, quero que pares, que continues, que te controles. Já não sei o que
quero, espera, não, eu sei o que quero, quero saciar a minha sede, aquela
vontade, quero-me vir, quero-te sentir.
Quando o teu
corpo já se encontra sobre o meu sinto a tua vontade, e não resisto em provar
um pouco, deliras, gemes, invocas os deuses, proclamas palavras sem sentido. Sento-me
sobre ti, e ao sentir o teu tronco bem junto do meu peito beijo-te com paixão,
de forma calma, tranquila mas forte e violenta. Sinto a intensidade do teu
beijo, das tuas mãos e consumamos o acto. As nossas respirações apesar de aceleradas
são sincronizadas. O ritmo vai se precipitando, peço-te calma, os corpos estão
suados e quentes, a respiração começa a ser quase impossível, como se estivéssemos
a ser sufocados, mas não dá para parar, não agora, pegas em mim e deitas-me
sobre a cama e assim com toda a tua vitalidade de possuis, minhas mãos arranham
as tuas costas, tua boca marca-me, meus dentes serram-te como se fosses um mero
pedaço. Viramos animais, viramos selvagens, lutamos sem nos largámos, disputamos
o território, não há heróis nem vencidos, apenas nós os dois, no mundo no espaço,
não existe mais nada para além do Cosmo.
Sento formigueiro
nos dedos, sinto a energia a viajar de forma supersónica, sinto-me a inflamar,
sinto-te a entrar em erupção, os sons dominam o espaço, os gemidos são descontrolados
e longos segundos depois sinto uma explosão, adrenalina, ira, paixão, tesão,
não sei que cocktail é este que se espalha e incendeia o espaço.
Sei que a
respiração por segundos faltou, que me senti conscientemente inconsciente, cais
ao meu lado, olhamo-nos e o riso substitui os gritos à pouco emitidos. Olhamos um
para o outro com ar leve, como se tivéssemos atingido o estado nirvana.
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