Friday, December 13, 2013

Sem respirar

Vaguei pela noite de Lisboa,      a lua cheia ilumina meu corpo, meu caminho, mas não a minha alma.
Não consigo respirar, apoio-me nas paredes de velhas casas alfacinhas que outrora eram vividas pela pobre plebe.
Quero pedir ajudo, socorro auxilio, mas minha traqueia se encontra fechada, minhas amígdalas encheram toda a minha garganta, meu respirar está impedido, sinto-me zonza.
Imploro por ti minha mãe, suplico por ti meu paizinho, procuro-te minha amiga, preciso de ti minha prima. Amigo que a tanto não te vejo, sei que não me ouves senão vinhas. Preciso de ti pessoa boa que se acha má.
Preciso de vós, do vosso oxigénio, humanidade e pureza.
Há minha volta só estão demónios, fantasmas, servos de Lúcifer, de subordinados de Hades, futuros anhos caídos.
Preciso de ar, de respirar, de ar puro e livre de difamações, maldades, rancores e vinganças despropositadas, onde o Ius não existe, onde a Lex é mera cortesia maléfica que apenas anseia em derramar sangue. Onde a Auctoritas é confundida com Imperium, onde os que mandam não têm poder, apenas se mostram de forma inculta, desgovernada e barraqueira.
Onde o Português é constantemente assassinado, onde as palavras bonitas do nosso vocabulário desfalecem e perdem beleza. Onde as flores murcham, não por ausência de água, mas sim por veneno das palavras que são bruscamente debitadas, onde nem um pouco de requinte de malvadez se verifica. Onde já não há brio, nem mesmo nas facadas que se dá.
Os apunhalados são pelas costas, e mesmo sabendo quem foi, pois vêm na mão do assassina o punhal ensanguentado se nega tal acto.
À minha volta só à negro, a lua perde o seu brilho, se esconde com vergonha pela humanidade, as pessoas perdem sua fisionomia de Deus Grego, assemelham-se cada vez ao lobo de Hobbes, suas palavras tornam-se grunhidos, vomitam sobre as outras bestas, se riem como hienas, seus cascos não se assemelham a cavalos lusitanos, mas sim a cabritas que se alimentam nas serras rochosas.
Tento me livrar de tais bestas em meu redor, mas gritam cada vez mais alto, esvoaçam sobre mim, riem-se dos pobres e esfomeados, arrancam pedaços da terra só para pontapear.
Tapo meus ouvidos, fecho meus olhos com força, mas com tanta força que começam a sangrar. sinto-me a ser raspada, arrancam pedaços da minha pele, dizem que querem a minha alma. Fazem-se amigos de outras bestas mas mal uma vira costas é brutalmente morta, uma pedra sobre sua cabeça, esmagando-lhe assim o crânio, e se riem, enquanto vêm o corpo do falecido companheiro a contorcer-se com espasmos.
Tendo sair dali gatinhando, mas eles me puxam para o centro, para o seu circulo de malvadez, olho em volta e vejo almas como a minha, almas que desistiram de lutar, juristas, médicos, voluntários, professores, pessoas de saber e cultura, vejo mendigos que grande alma a serem descarnados de seus ossos, eles gritam e suplicam por misericórdia, mas as bestas se olham, não sabem que isso é palavra.
MORAL: oiço alguém a gritar, e as caras Kelsenistas das bestas ficam apáticas.
SOLIDARIADADE! Torna os mais perplexos.
Amor, paixão, carinho, respeito, bondade, cordialidade, forma palavras ditas em forma de força, tais palavras começavam a enfraquecer tais demónios. suas formas tornavam-se pouco a pouco mais humanas.
Contudo, a grande besta, que tem um dialecto próprio, que não tem ouvidos, que apenas sente o cheiro a sangue e a medo, logo se aproxima de forma brusca, saltando sobre todos os cadáveres expostos e pegando na sua foice aproximou-se de mim, olhou-me sem me ver e cortou-me minha cabeça, mas antes consegui dizer a minha última palavra: Humildade!!

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