Friday, November 12, 2010


Bárbara, do latim, significa estrangeira, que não fala latim, é esta a definição do meu nome, as pessoas associam o meu nome a coisas mas, bruscas e incultas, pessoa bárbara, pessoa agressiva, mas não o sou, quer dizer….
Em criança era calma, a cidade ainda era calma, a violência era escassa e o respeito abundava, sentia-me bem, era criança, brincava na rua, tinha amigos reais e roupa sempre pronta para ir para a tulha.
Gostava da escola, dominava a matemática, minha fila venceu devido a minha rapidez de dividir, tabuada na mão esquerda e pau de giz na mão destra e frenética. Senti-me orgulhosa, minha vitória fez com que levássemos autocolantes para casa e uma história de guerra vencida. Estudo do meio não era má, gostava de rios, serras e da história da condensação. Gostava de tudo, menos de português, decorava os textos em casa e chorava no meio da leitura, não de emoção pelo conto mas por tristeza de não decifrar as palavras.
Sentia-me burra, estúpida, meu pai ralhava comigo, batia-me até, minha tia obrigava-me a ler, agradeço-lhe por isso, por esse momentos nervosos em que tentava decifrar as palavras enquanto ela passava a ferro e me escutava com atenção.
Acabou a primaria e com isso aumentou a responsabilidade, porta moedas ao pescoço, com moedinhas para o lanche e o passe guardado para poder apanhar o 83 e sair de Lisboa e seguir até Portela. Aquecia o comer no microondas, via televisão e fazia os deveres, ou então ia brincar com os colegas no jardim, comprávamos balões de água e fazíamos jogos que nos constipavam, preparávamos as aulas 100, teatro, a Cinderela, festas francesas ou a inglesa, cada disciplina tinha a sua homenagem.
Morte, sabia que existia mas nunca a tinha sentido de perto, não sabia o que era perder alguém, mas descobri, Cátia, era esse o seu nome, minha colega desde a 1ª classe, minha amiga, minha futura companheira de casa, foi minha irmã no teatro, foi a Emma das Spiece foi vedeta ao meu lado nas filmagens de um vídeo clip. Foi minha amiga, mesmo quando ambas estávamos loucamente apaixonadas pelo David, mesmo ai fomos sempre amigas.
No ano de sua morte também perdi um ano lectivo, não fiquei triste, sabia que tinha chumbado por culpa minha e aprendi. Acabei a preparatória, deixei nessa escola amigos, paixões e brincadeiras, mas segui para outra era adolescência, sabia que entrara numa nova fase, onde me descobri, onde me conheci, não gostei do que vi, obesidade, sem jeito, desengraçada, normal da idade, crise por assim dizer, mas mesmo assim ri, tentei mudar, não só a maneira de pensar como de estar, meu problema literário começou a ser tratado, sentia-me bem, deixei de me ver como a burra e estúpida de outrora, agora sabia que era apenas diferente e com o tempo vi que era especial, não melhor nem pior, apenas especial, era eu, a única, a conversadora, divertida e brincalhona, a amiga e camarada, a tagarela e a desnorteada, mas mesmo assim fui julgada, chamavam-me drogada sem nunca ter fumado, chamaram-me alcoviteira ser nunca ter experimentado, mas logo vi que o meu a vontade que a minha liberdade incomodava alguns, retraia-me um pouco com medo dos dedos apontados, mas aprendi e descobri que não me importo de ser apontada que o que importa é a minha voz, o meu pensamento e os meus actos sem maldade. Ultimo ano escolar, que mudanças que loucura, quase que sentia a terra a girar, minha virgindade perdida, paixão vivida, amiga perdida, amiga de mentira, trabalho sério, remunerado e com responsabilidades, testes por estudar e uma hora tardia de me deitar, mas consegui.
Logo veio o Verão e sem dar conta esse foi o ultimo verão em que ainda tinha um pouco de menina, uma réstia mas tinha, mas a medida que o verão passava a meninice ia-se perdendo, dissolvendo-se nas noites da expo, nos passeios por Belém, nas conversas de madrugada.
Agora sou mulher, sou vista assim pela sociedade, mas regredi, minha vontade de viver de me divertir e aprender voltou, como quando tinha 5 anos e me preparava para o 1º ano de escola, mas agora sei o que quero, que percurso devo fazer e caso acha transito sei os atalhos e não desisto, ali presa no transito da vida, nas lamentações e nos, e se? Acabou, agora luto agora sonho, agora atinjo o meu sonho.

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